terça-feira, 31 de março de 2015

2 anos de recobro

A entrevista ao Record do passado fim de semana foi extensa e passou em revista quase todos os assuntos do momento. A reestruturação financeira e a auditoria ficaram de fora, particularmente os dois assuntos de maior relevância para o clube e os menores para o factor desportivo e desempenho da SAD. Já esperava, foi uma entrevista de e para o momento.

De qualquer forma e sem haver surpresas, BdC reafirmou quase todas as respostas anteriores e deixou apenas levantar um pouco o véu quanto a possíveis mudanças no aparelho da arbitragem. Alguns recados a empresários (Carrillo, Rubio e Labyad) e muitas indirectas aos media compuseram a parte mais política da coisa...desportivamente o posicionamento foi coerente com a ideia desta presidência - gastar o que se tem, avaliar todas as hipóteses com calma e ponderação, jogar com o tempo na tomada de decisão.

Dizem que BdC está mais "calmo" e mais "ponderado". Eu penso que estando o Sporting na posição em que está, dificilmente poderia estar diferente, a não ser que fosse tonto (coisa que não é). Este presidente sabe que não estando na linha da frente, mostrar os dentes ao sistema é redundante e desgastante. Eu diria mais que BdC está a ganhar fôlego, vem aí (provavelmente) uma final da Taça e os jogos decisivos para atacar o (possível) 2º lugar e que ninguém espere "calma" ou "ponderação" caso algum obstáculo se atravesse no caminho.

Na ressaca de 2 anos de mandato, há mesmo "obra feita". Não foi à custa de dinheiro emprestado ou da ajuda de empresários ou fundos. Desta vez foi por génio e graça de muitos sportinguistas que arregaçando as mangas fizeram opções, aceitaram reduzir ordenados, aceitaram sair do clube, aceitaram ir para tribunal decidir as compensações pelas rescisões urgentes da SAD. Não há cenários perfeitos e fazer o downsize em qualquer instituição do tamanho do Sporting é matéria para muitas noites mal dormidas.

O que interessa valorizar é a aprendizagem, a experiência e o know-how acumulados por BdC e restante direcção. Arriscaria a dizer que, tal como em qualquer cargo, quanto mais épocas melhor será o desempenho e espero sinceramente que BdC saiba tirar as ilações destes 2 anos:

1/ O presidente é sempre o 1º a defender as equipas em público, mesmo que seja o 1º a criticá-las na privacidade;
2/ O Sporting é um clube enorme, com um grande mediatismo, se um alfinete cair numa SAD, os jornais saberão disso 1 minuto depois, não há "blindagens" possíveis...mas há formas de "filtrar" informação ;
3/ A crise económica em Portugal é para ser levada a sério. As famílias estão com orçamentos bastante inflexíveis e a situação manter-se-á durante alguns anos mais. Facilitar a vida (€€€€) aos sócios e adeptos é uma via fundamental para manter gente à volta do clube;
4/ O sistema não se combate com "paus e pedras". O arsenal vai ter de endurecer. Fazer cócegas não é o mesmo que lutar contra o status quo do compadrio e corrupção (activa ou passiva). A solução é derrotar...não chega hostilizar.
5/ Todos os grandes patrocínios estão fora de Portugal. O dinheiro deve ser procurado onde há em abastança - China, Emirados, Arábia Saudita...
6/ As Academias espalhadas pelo mundo devem produzir algo durante os próximos 5/6 anos, de outra forma serão apenas marketing, e como tal, efémeras
7/ O controle financeiro e rigor orçamental não é um trunfo para negociar ou uma óptima desculpa para não vencer troféus...é o único caminho a seguir. Aceitar a paixão dos "logo se vê" é repetir erros que quase encerravam Alvalade;
8/ Os maiores inimigos do Sporting são os "notáveis" Sportinguistas. Os que dizem bem ou mal do clube conforme a cor das notas. São os que se penduraram nos seus consócios para fazer "negócio";
9/ A imprensa é como uma cadela indisciplinada. Tem de ser dada trela suficiente para que se imagine independente e livre, deve ser posta na ordem logo que cometa uma asneira, deve receber estímulos positivos quando agrada ao dono.
10/ Ser popular não é fazer "tudo" o que os sócios pedem. Ser "popular" é fazer o que for fundamental para respeitar a crença e opinião dos sócios. Ninguém quis Marco Silva fora do Sporting em Dezembro e ninguém entendeu porque esteve em cima de alguma mesa essa decisão. Compreender é o verbo decisivo. Sem informação ninguém sabe o que deve decidir e em caso de ser zero, ninguém quer decidir nada, o mesmo é dizer que, ninguém defendeu Marco Silva...ninguém quis foi validar decisões sem matéria de julgamento. Os resultados não explicam tudo. Quem pede estabilidade, deve dá-la também.
11/ Candidato ou não candidato ao título é uma falsa questão. O problema é humildade ou falta dela. Ser ambicioso não é o contrário de aceitar que não se tem mais ou melhores armas que os demais. Tantas e tantas vezes, ao longo da história, a humildade é o primeiro passo para atingir a superação necessária para ultrapassar fasquias intransponíveis.

SL

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